Seminário debateu criação de universidade estadual

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Estudantes e trabalhadoras e trabalhadores da educação se reuniram, na manhã de hoje, dia 25 de fevereiro, na sede da CUT Sergipe, para debater sobre os desafios e possibilidades da criação de uma universidade estadual, anunciada pelo governador Fábio Mitidieri. Foi o 1º Seminário Universidade Estadual de Sergipe, com o tema ‘A Continuidade da Política de Expansão da UFS em Sergipe e a Criação da Universidade Estadual: desafios e possibilidades’.

Representantes de movimentos sindicais e estudantis participaram da atividade e levantaram uma série de questionamentos que não foram apresentados pelo governador do Estado quando do anúncio da criação da instituição de ensino.

“A rede estadual de ensino é responsável pela educação básico, os ensinos fundamental e médio, e o que vemos é uma série de problemas, que vão de estrutura física à desvalorização de professoras e professores da rede, passando pela redução da rede de ensino, com redução no número de vagas e fechamento de turmas nas escolas públicas”, disse Roberto Silva, presidente da CUT Sergipe e do SINTESE, sindicato que representa professoras e professores das redes estadual e municipais de ensino no Estado.

“Se o Governo de Sergipe não está conseguindo cumprir corretamente o que é sua obrigação, será que vai dar conta de uma instituição de ensino superior, que não é de sua obrigação?”, questionou Roberto. “Quem vai preencher as vagas desta universidade se cada vez menos pessoas conseguem entrar ou concluir o ensino fundamental e médio, pré-requisito para acessar o ensino superior?”, levantou mais um ponto.

“O debate não é se a gente quer ou não uma universidade estadual e sim de que forma isso está sendo construído. Esta é uma pauta antiga da luta de trabalhadores e estudantes. O governo anuncia que está trabalhando na criação desta universidade, mas não dialoga com professores, com estudantes, com a sociedade”, observou Roberto.

“O ensino é uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento de uma sociedade, de uma comunidade e esta ferramenta precisa atuar em conjunto com a sociedade, tem que ser feita para a sociedade. Tem que ser acessível, tem que formar cidadãos críticos, que vão atuar pelo crescimento de sua comunidade”, destacou Fábio Souza, presidente do Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal de Sergipe (DCE-UFS).

“O que estamos vendo é a discussão acerca da criação desta universidade acontecer em gabinetes, sem a participação da sociedade. O Governo precisa apresentar uma proposta robusta, apresentando dados e informações que nortearam a criação da universidade e comprovando a capacidade de ofertar e manter a instituição de ensino, de forma pública, gratuita e de qualidade”, cobrou José Correia Neto, coordenador de Finanças do Sinasefe Sergipe, sindicato que representa servidores e servidoras do Instituto Federal de Sergipe (IFS).

“Qual o objetivo dessa universidade e para quem ela está sendo feita? O que será ofertado? Ela trará concurso público para preencher seus postos de trabalho? Ela será gratuita, pública e de qualidade? Haverá capacidade de absorção da mão-de-obra gerada por ela? São inúmeras as perguntas básicas que estão sem respostas. E estas perguntas são essenciais para se chegar a uma decisão como a de criação de uma universidade”, questionou Taira Moreira, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação da UFS (Sintufs).

“A nossa preocupação é que estamos diante de um governo que tem demonstrado um grande esforço em atacar o servidor público, atacar o magistério, sucatear o serviço público e que agora anuncia a criação de uma universidade estadual, que não é uma obrigação da esfera estadual. Enquanto isso, temos escolas que sem estrutura física adequada para funcionarem como escola, temos uma carreira congelada e professores desvalorizados e desrespeitados. É algo que devemos ficar atentos mesmo”, destacou Ivonete Cruz, diretora de Base Estadual do SINTESE.

Após as discussões, foi criada a Frente Estadual em Defesa da Educação Pública. “Esta Frente vai discutir o modelo de universidade estadual que nós defendemos: que tenha financiamento, que tenha respeito aos trabalhadores, que possa assegurar a autonomia universitária, já que é histórico o Governo do Estado atacar a autonomia das escolas públicas”, detalhou Roberto. “É uma frente que vai inclusive discutir os problemas do ensino médio, da negação do direito à educação no ensino médio que vem sendo implementada por essa política do Governo do Estado, com redução das matrículas nos ensinos fundamental e médio da rede estadual de ensino”, acrescentou.

“A autonomia universitária é algo que nos é muito caro, pois nos protege para a formação de cidadãos críticos e não apenas para geração de mão-de-obra para atender ao mercado neoliberal”, disse Romero Venâncio, presidente da Associação dos Docentes da UFS (ADUFS). A autonomia universitária é o princípio que garante às universidades o direito de se autogerir em áreas como administração, ensino e pesquisa, sem interferência externa indevida. Esse conceito é fundamental para garantir a liberdade acadêmica e a qualidade do ensino superior.

A Frente vai montar estratégias e ações para dialogar com a população e buscar assento na construção dessa proposta para garantir que seja algo voltado para o benefício da população.

“Um governo que não cumpre suas obrigações com o ensino básico, que desrespeita seu magistério agora anunciar a criação de uma universidade estadual não passa de marketing de distração, uma forma de esconder do povo sua falta de compromisso com a educação”, reforçou Roberto.