Professores debatem perspectivas para a construção da ‘Pedagogia da Vida’

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Mais de 120 professores do Vale do Cotinguiba participaram do Encontro em Japaratuba

Professores do Vale do Cotinguiba participaram nesta quinta-feira, 28, do Encontro Regional deMais de 120 professores do Vale do Cotinguiba participaram do Encontro em Japaratuba Educação do SINTESE, que aconteceu na cidade de Japaratuba. O evento teve como mediadora a professora da Unicamp, Drª Corinta Geraldi, que tratou do tema Currículo e Avaliação.  

A professora abordou a temática na perspectiva da construção de uma avaliação e currículo vivos, dinâmicos, que respeitem o contexto e a realidade social dos estudantes e trabalhem sempre a ‘Pedagogia da vida’.

Corinta Geraldi iniciou sua fala trazendo à tona o conceito de aprendizagem oculta. “É aquilo que não está escrito nos currículos. A aprendizagem oculta é o que reproduzimos dentro da sala de aula, a partir de nossas vivências e que contribui para a formação de preconceitos, valores e identidade dos nossos estudantes”, explicou.

A mediadora colocou como os professores, de forma subjetiva, imprimem o que são no momento que estão ensinando as disciplinas tradicionais das grades curriculares e a partir disso o quanto estes professores podem reforçar a Pedagogia da Vida ou a Pedagogia da Morte.

Pedagogia da Vida X Pedagogia da Morte

Os conceitos de Pedagogia da Vida e Pedagogia da Morte foram pensados pela professora CorintaA mediadora professora Drª Corinta Geraldi Geraldi para abordar a tragédia ocorrida com no dia 12 de agosto, na Escola Estadual Olga Barreto, em São Cristóvão, quando o professor de Biologia Carlos Christian foi alvejado por três tiros disparados por um de seus alunos, insatisfeito com a nota de uma prova.

“Eu vi o caso pela televisão. Fiquei muito abalada porque para mim todo professor é como um irmão. Diante deste triste acontecimento o que eu tinha preparado para ser trabalhado neste encontro não fazia mais sentido, tive que pensar uma nova abordagem. Então vieram crescendo questionamentos: como lhe dar com a violência dentro das nossas escolas? Os acontecimentos tem força para nos fazer repensar no que estamos fazendo, no quanto estamos contribuindo para a pedagogia da morte”, colocou a professora.

A pedagogia da morte é aquela que discrimina, que isola, que rotula, que pensa na escola isolada da sociedade e não como uma organismo vivo que reflete e é reflexo da mesma. A professora Corinta convidou a todos a expandir o seu olha, ir para além da tragédia em si e refletir sobre as problemáticas sociais que estão envolta da tragédia.

“Como o adolescente consegue ter acesso a uma arama? O que o levou ao comportamento agressivo? Essas são questões crucias para irmos ao cerne do problema. Nos cursos de graduação vocês aprenderam a como lhe dar com a pedagogia da morte? Com a violência na escola? A respostas é não. Vocês não aprenderam porque isso não está nos currículos formais. A tendência diante da pedagogia da morte e do medo é a gente se encolher, ficar de espreita pronto para atacar a qualquer sinal de ameaça. Mas como educadores não podemos nos fechar e simplesmente atacarmos. Temos que pensar em como construir uma pedagogia para lhe dar com a violência. Como transformar a Pedagogia da morte em Pedagogia da vida”, pensa Corinta Geraldi.

Para que todos pudessem refletir mais sobre o tema a professora Corinta citou o filosofo Franco argelino, Albert Camus: “Diante do absurdo pego a minha liberdade, a minha revolta e a minha paixão e transformo em regra de vida o que seria a morte”.

“Esse é o convite que faço a vocês: vamos tentar transformar em regra de vida o que é um convite a pedagogia da morte”, pontou a professora.

Currículo e Avaliação

Corinta Geraldi questionou a homogeneização dos currículos e das avaliações nacionais. Além disso,Grupo divide experiências de pedagogia da morte e pensa em como superá-la colocou o quão nociva é a prática de alguns gestores públicos quando premiam os dito melhores alunos e professores e punem os piores.

“A mesma prova que é aplicada para os alunos que estão nos grandes centros é aplicada para os que estão nas periferias e na zona rural. Os professores que têm os ditos melhores alunos são gratulados e até 14º salário recebem. Enquanto os professores e alunos que se saíram mal na avaliação recebem punições e sanções ao invés de incentivo. De modo geral os alunos com os piores desempenhos estão nas escolas das periferias, onde o acesse aos bens culturais, lazer, saúde e demais políticas pública que buscam desenvolve o ser humano pouco estão ou não estão presentes”, analisou Corinta.

A professora pontuou ainda que é a partir destas avaliações que os currículos escolares estão sendo construídos. Currículos que valorizam mais a meritocracia e a disputa do que valores. “Devemos refletir qual aluno queremos formar. O currículo não pode se fechar apenas em disciplinas tradicionais e restritas a livros didáticos. O currículo deve incorporar elementos do cotidiano e da realidade do estudante. O currículo é vivo. Algo acontece no mundo, no nosso país, na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa escola e muda os rumos das discursões. E sem dúvida tais mudanças devem se inserir ao currículo”, destacou.

Desafio

Para finalizar as atividades do dia, a professora Corinta Geraldi, propôs um desafio aos participantes doGrupo interpreta a vivência de um de seus membros encontro: divididos em grupos, os professores deveriam encenar uma situação de discriminação, violência ou preconceito que aconteceu com eles quando eram crianças ou adolescentes dentro da escola e estimulou a pedagogia da morte.  Após a encenação os professores deveriam dar exemplos de pedagogia da vida para superar a pedagogia da morte.

Diversas situações foram encenadas ou narradas. Curiosamente a maioria das histórias encenadas trouxeram como protagonistas da pedagogia da morte a figura do professor. Muitos contaram como foram humilhados, agredidos verbalmente e até fisicamente por seus professores quando eram crianças ou adolescentes.

Ao final os grupos listaram forma de superar os preconceitos e transformar a pedagogia da morte em pedagogia da vida. Entre as soluções estavam: promoção de debates onde os estudantes tenham voz ativa; tornar e compreender a escola como parte fundamental e integrante da comunidade em que esta inserida; promoção de gincanas culturais; estimulo a prática de esporte; desenvolvimento de projetos que envolvam o cotidiano dos alunos e suas realidades sociais através de expressões artísticas, entre outros.

A intenção da mediadora ao levar tal dinâmica aos professores do Vale do Cotinguida foi fazer com que eles saíssem de suas zonas de conforto e voltassem a enxergar a escola através dos olhos dos estudantes. A partir do compartilhamento de suas vivências os professores puderam ver como sofreram com a Pedagogia da Morte, o quanto hoje como professores, algumas vezes, eles contribuem para a manutenção desta pedagogia e o que fazer para superá-la.

“A pedagogia da morte e do medo estão incrustadas em nossa história. Por isso, precisamos verbalizar, romper a cultura do silêncio e falar sobre o que vivemos. Tentar trabalhar e quebrar a pedagogia da morte para que nosso alunos não sofram”, finalizou Corinta Geraldi

Mais encontros

Os próximos encontros acontecem:

30 de agosto – sábado
BAIXO SÃO FRANCISCO I e II 
Palestrante: Corinta Geraldi
Local: Vila Nova Clube – Neópolis – SE
Horário: 09h-17h

30 de agosto – sábado
AGRESTE
Palestrante: Luiza Cortesão
Local: SUBSEDE AGRESTE DO SINTESE
Rua José Rufino de Santana, 146, Bairro Marianga,Itabaiana-SE.
Horário: 09h-17h