Reproduzido do site Carta Capital
O ofício de cineasta, segundo o próprio Mario Monicelli, começou para ele com A Grande Guerra. Não é pouco dizer isso sobre um filme de 1959, quando o mestre da comédia irônica italiana já somava realizações importantes como as parcerias com Totó ou, dois anos antes, com Marcello Mastroianni e Vittorio Gassman, dirigidos por ele em Os Eternos Desconhecidos. Gassman protagoniza, ao lado de Alberto Sordi, a produção seguinte, esta que faria Monicelli sentir-se um artista pleno na direção.
Assim ele se descreveu em memorável noite no centro histórico de Veneza, há dois anos, quando o festival de cinema da cidade o homenageou com uma exibição de A Grande Guerra em cópia nova. Um cinquentenário simbólico, pois também o título vencera o Leão de Ouro daquela mostra, reconhecimento dividido com Roberto Rossellini (De Crápula a Herói). Em poucas palavras, não pela idade avançada, já que então contava 94 anos, e sim por seu feitio, o diretor afirmou na ocasião não apenas que o cinema italiano decaíra nos últimos tempos, mas também o país, recado dado para bom entendedor.
Monicelli lembrava tudo isso, como aliás o fez no rápido encontro veneziano, aos produtores que cobravam dele certo viés cinzento num trabalho, a princípio, dedicado a fazer rir. Quem conhece suas notáveis realizações, a exemplo de O Incrível Exército de Brancaleone e Parente É Serpente, sabe que é assim o seu fazer, um credo a unir o cinema popular ao reflexivo. Por trás da vertente cômica, o velho comunista desejava fustigar o público e lhe travar a garganta. O espectador chega, assim, ao final de A Grande Guerra, perplexo também pela desconcertante coerência com que o cineasta levou essa máxima para sua vida. Deu cabo dela, em 29 de novembro de 2010, ao se jogar da janela do hospital onde se tratava de um câncer.
A Grande Guerra, direção de Mario Monicelli. Versátil, R$ 49,90