Aparthaid disfarçado todo dia!

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Rian Santos – da agencia voz

O perfume de minha pele sob o sol do meio-dia – evidência inequívoca do sangue e do sêmen negro, estrume fecundo de nossa cultura.

Nos últimos dias, o noticiário local foi assaltado por uma grande surpresa. O pré-conceito racial persiste entre a gente. A médica Ana Flávia Pinto Silva quebrou as correntes que governavam os seus demônios, e abriu nossas narinas, empurrando o sexo do sinhozinho pelas fendas da criada. Sentimos o odor repulsivo da natureza, obrigados a nos reconhecer no fruto indesejado da violência. Somos, sim, filhos bastardos de uma satisfação culpada – A roupa alva da Casa Grande, o couro do chicote, a carne nua e lasciva da negrada no chão escuro da senzala…

Não foi no canavial assombrado pelo silvo da chibata e o banzo choroso dos africanos. Ocorreu em nossos dias, entre prédios gigantescos, em uma Aracaju asfaltada. Ana Flávia justificou a atuação de Lucélia Santos na adaptação do clássico de Nelson Rodrigues para o cinema, e, cheia de bestialidade, gritou: Negro! Parecia até que a moça estava sendo currada.

Ficamos todos indignados, mas repetimos a acusação da médica, cuspimos cheios de luxúria, como a personagem de Lucélia Santos, todos os dias. Sob o mito da democracia racial, a maioria da população suporta a pancada.

Recentemente, a ONU apresentou um relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil. Segundo o documento, entre outros dados apresentados, o número absoluto de pobres com renda per capita inferior a R$ 75,00 no ano de 2000 diminuiu em 5 milhões, entre os anos de 1992 e 2001. O número de negros pobres, entretanto, ao contrário da tendência, aumentou em 500 mil.

Alguém já disse que todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Incontestável, o olor desprendido pela realidade continuará a nos incomodar até que a súplica de Castro Alves finalmente adquira algum sentido. “Colombo, fecha a porte de teus mares!”

fonte: www.agenciavoz.com.br