Comunidade Varzinha, em Serra Talhada, denuncia os impactos causados pelas obras da Transnordestina

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Em Pernambuco, as comunidades que vivem no caminho por onde passarão os trilhos da Transnordestina só sentem os rastros e os impactos de destruição causados pelas obras. Na comunidade de Varzinha, localizada no município de Serra Talhada, sertão do Estado, vivem mais de 200 famílias que estão sendo atingidas pela construção do lote três da ferrovia, executado pela empresa Odebrecht. O cotidiano da comunidade foi totalmente transformado depois que a empresa chegou ao local. De lá até aqui, as famílias contabilizam os prejuízos sofridos com o andamento das obras e sentem-se indignadas com o transtorno a qual são cotidianamente obrigadas a enfrentar. A comunidade já denunciou ao Ministério Público diversas situações de violações de direitos quem vêm sofrendo. O caso será discutido nesta próxima segunda-feira, dia 07, em audiência com o Ministério Público em Serra Talhada.

O Padre Sebastião, da Comissão Pastoral da Terra da diocese de Floresta e que acompanha as famílias atingidas, relata que os impactos são sentidos por todas as partes. De acordo com o Padre, a reação das famílias é de espanto e de revolta, principalmente em dias de explosões com dinamites no canteiro de obras bem próximo à comunidade.“Primeiro a sirene toca várias vezes avisando aos moradores que irá ocorrer uma explosão. Ai, todos saem correndo de suas casas e a rua é fechada”, relata. Após as explosões, os moradores e moradoras retornam às suas casas para conferir os prejuízos. Foi exatamente isto o que aconteceu após uma série de explosões, realizada no último dia 13 de outubro: várias casas foram atingidas por destroços vindos da explosão. O trabalhador José Guilherme da Silva Filho mostra as várias rachaduras em sua casa. “Até agora não foi consertada” e segundo o trabalhador ninguém da empresa fala em reparar os danos causados pelas explosões. Já o trabalhador João Alberto de Souza denuncia que o açude que abastece a sua família não enche mais, isso porque segundo o morador “a água que descia para meu barreiro fica represada no amontoado de terra das obras da ferrovia”.

Neste mesmo dia em que a explosão rachou a casa de seu José Guilherme, uma criança de seis anos foi atingida e ferida pelos destroços. “Ai, este foi o  momento em que os moradores e moradoras ficam apavorados, um momento de tensão e de  muita indignação para a comunidade” ressalta o Padre. A menina, S.A, foi imediatamente levada pelos pais para fazer exame de corpo de delito. Foi a partir deste episódio que as famílias se organizaram e juntas denunciaram o caso ao Ministério Público. De acordo com os moradores e moradoras, nem o Governo, nem o Estado chegaram a dialogar com a comunidade sobre as obras e todos os impactos que as famílias sofreriam, “as famílias sentem-se ignoradas pelos órgãos públicos, tudo em nome deste chamado “desenvolvimento”, ressalta o Padre.

Transnordestina: sob os trilhos da destruição

A Transnordestina, ferrovia de 1.728 quilômetros, vai ligar os portos de Suape (PE) e Pecém (CE) ao município de Eliseu Martins (PI). O megaprojeto, que cortará todo o Estado de Pernambuco de leste à oeste, está orçado em aproximadamente R$ 5,4 bilhões, sendo o Ministério da Integração Nacional responsável pelo financiamento de cerca de 70% da obra. A Ferrovia servirá para potencializar o avanço dos transportes de minérios, produtos do agronegócio e outras matérias-primas para exportação.

É uma obra que coleciona grandes números, principalmente os relacionados a quantidade de famílias atingidas, que estão sendo ou serão despejadas de suas casas e comunidades inteiras destruídas em nome do “progresso”. Além das 200 famílias que vivem na comunidade de Varzinha e que já sentem os impactos da obra, existem tantas outras que já foram ou serão atingidas pela obra e que são ignoradas pelo Governo e pelo Ministério da Integração Nacional.  Este  é o caso também das 100 famílias que vivem nas margens da linha férrea, no distrito de Fleixeiras, em Escada. Em agosto, as famílias receberam um mandado de reintegração de posse e de demolição de todas as casas, sem que nenhuma família fosse ouvida e sem nenhuma garantia de direitos. Diante da situação, as famílias chegaram a realizar duas manifestações em setembro como forma de serem ouvidas pelo poder público. Como resultado, as famílias conseguiram o adiamento da reintegração de posse até que uma solução seja construída junto as famílias que ali vivem há mais de 40 anos.

Outras informações:
Padre Sebastião
CPT Floresta
Fone: (87) 9631.6975

Renata Albuquerque
Fone: (81) 9663.2716